Clínica de Reabilitação de Dependências | Modelo e Objectivos
O modelo que aplicamos, ao longo de mais de três décadas de experiência na reabilitação de dependências, com provas dadas a nível científico (Project Match, realizado nos EUA) e empírico (individualizado, flexível, dilatado no tempo, personificado e interdisciplinar) assenta, na premissa de que a dependência (adição) de substâncias aditivas (Psico-activas) é uma doença progressiva e crónica (multifacetada). Contudo é possível interromper o processo destrutivo, iniciando-se assim a recuperação (mudança de estilo de vida). Para tal, é necessária a abstinência total de substâncias aditivas. Adoptamos a filosofia dos Doze Passos (programa de recuperação dos Grupos de Ajuda Mutua (Alcoólicos Anónimos) com uma forte componente espiritual, não religiosa, a Terapia Cognitiva-Comportamental e o Modelo Transteorico de Prochaska e DiClemente – Fases de Mudança.
O plano de tratamento individualizado contempla as seguintes componentes (apoio bio-psico-social-espiritual, não religioso):
Admissão por parte do individuo de que a sua situação é problemática e que requer apoio profissional.
Avaliação da adição e as consequências associadas (saúde, família, profissional, jurídico-legais, problemas económicos).
Desabituação psicológica da substancia e/ou substâncias (policonsumos/adição cruzada)
Mudança para um estilo de vida saudável
Tratamento Intensivo em Regime Residencial de Internamento
Plano de Tratamento de Dependências de doze semanas num ambiente livre de drogas, incluindo o álcool, e de respeito pelo indivíduo, pelas suas crenças e princípios morais – cada caso um caso. Reforçamos as suas competências e habilidades promovendo assim a auto-responsabilização para a sua recuperação (mudança de estilo de vida saudável).
Tratamento Ambulatório:
A Reabilitação de Dependências em regime ambulatório consta num Plano de Desenvolvimento Individual (P.D.I.) estabelecido entre a instituição e o indivíduo. Adaptado a casos muito específicos, sujeitos a uma avaliação das necessidades do indivíduo, que consiste num acompanhamento terapêutico intensivo semanal, quando não se justifica um internamento residencial de internamento. Os objectivos contemplam para além da abstinência de substâncias a redução de riscos e de danos.
Pós Tratamento:
Após a conclusão do Internamento, graças às facetas complexas e multifacetadas da adição, existe a necessidade de um acompanhamento individualizado e de grupo semanais (follow-up) a fim de minimizar os riscos de um deslize/recaída promovendo os factores de protecção. Este follow-up imprescindível na consolidação da abstinência e para uma recuperação duradoura tem a duração de um ano durante o qual o indivíduo permanece envolvido com a instituição, seu aliado neste processo de mudança de estilo de vida. O primeiro ano de abstinência é um período fulcral de consolidação, de re-aprendizagem e de descoberta.
Programa de Assistência às Famílias:
Através da nossa experiência ao longo de mais de três décadas, observamos que a família (todos os seus membros, sem excepção) quando exposto à adição activa (nociva) adopta atitudes e comportamentos disfuncionais potenciadores do caos (perda de limites e inversão de papeis), isolamento, negação, facilitação e minimização, doença física ou mental (ex stress pós-traumático, ansiedade, depressão). Assim sendo, o tratamento também é direccionado para a família do dependente, pois esta é parte essencial no processo de recuperação. Promovemos a comunicação honesta e sincera num ambiente seguro e de confiança.
Nota: Da mesma forma que a família é afectada também o ambiente profissional sofre com as consequências da adição activa (nociva) nesse sentido também elaboramos programas de apoio a empregados e empregadores. Através de palestras educacionais, conferencias e apoio à reinserção profissional (parcerias).
– Metodologias e Técnicas utilizadas no Tratamento e Reabilitação de Dependências (Terapia Cognitivo-Comportamental, Ferramentas Motivacionais, Cognitivas, Didácticas, Lúdicas…)
Utilizamos palestras educacionais, baterias de testes psicológicos, grupos estruturados com os mais variados temas relacionados com a adição, tratamento e recuperação (mudança de estilo de vida) – “workshops”, leitura de material didático e trabalhos escritos, saídas do centro organizadas e planeadas ao fim de semana, terapia individual e de grupo, grupos de expressão de sentimentos, grupos terapêuticos com as famílias, actividade física semanal supervisionada por um profissional da equipe terapêutica, frequência semanal dos Grupos de Ajuda Mútua, programa de apoio à família, programa de assistência a empregados/empregadores.
– Prevenção da recaída (como fazem, exemplos concretos)
Abordagem dos Factores de Risco e Factores de Protecção – “Role-play” de situações de alto risco relacionadas com substâncias adictivas (pessoas, lugares e coisas), distracções cognitivas – auto-instrução no sentido de não consumir drogas incluindo o álcool, imaginação e visualização “levar o filme até ao fim”, identificando situações aversivas relacionadas com as consequências nocivas do uso/abuso/dependência, evitar memorias eufóricas sobre o efeito das substancias, (técnicas de coping); comportamentais – relaxamento, meditação, assertividade, utilizar o telefone para pedir ajuda. Reforçar a importância de criação de aliados (pessoas, lugares e coisas) como factores de Protecção.
Elaboramos com os nossos pacientes estratégias de identificação de padrões e circunstancias relacionadas com o consumo através de leituras de material relacionado com a Prevenção da Recaída e trabalhos escritos.
Convém salientar que ao longo da nossa experiência adquirimos conhecimento empírico através da re-admissão de pacientes que após o primeiro tratamento voltaram a usar e quando precisaram de ajuda recorreram aos nossos serviços. Todos em conjunto desenvolvemos esforços para a uma recuperação saudável, satisfatória e duradoura. A recaída é um fenómeno que pode fazer parte do processo. A adição é uma doença crónica onde como qualquer outra doença crónica (ex. diabetes, hipertensão), as recaídas podem ser interpretadas como um factor resiliente. Isto é após a recaída (adversidade) o indivíduo pode aprender novas competências que favoreçam a recuperação.
– Reinserção
O processo de abandono do consumo de substâncias adictivas tem sofrido mudanças significativas ao longo dos últimos 22 anos. Actualmente o indivíduo dependente (adito) deixou de ser visto como um criminoso e um marginal que uma vez “agarrado às drogas, incluindo o álcool” seria dependente o resto da vida. Hoje já é percebido como alguém “doente” portador de um problema grave que necessita de ajuda profissional.
Como já foi referido, assumimos o compromisso procurando apoiar o indivíduo, a sua família e a sua reinserção profissional. Acreditamos na reabilitação (potencial activo e resiliente) e na auto responsabilização do adito pelo sua próprio plano de recuperação, quer seja pelo seu passado (adição activa nociva), presente (abstinência) e pelo futuro (recuperação duradoura / mudança de estilo de vida) e no impacto, como cidadão activo e responsável, que desempenha no seu enquadramento familiar e na comunidade (sociedade).
Para uma combinação equilibrada de intervenções destaca-se a farmacoterapia. Nos últimos anos, a investigação do cérebro tem permitido “ilustrar” a forma como as substancias aditivas interagem e interferem com o funcionamento do cérebro. Estas investigações também têm revelado, assim como temos vindo a observar um acréscimo de co-morbilidades (perturbações psiquiátricas e dependência de substancias) na população de dependentes.
A abstinência é unicamente o primeiro passo. Existem casos onde é necessário recorrer à ajuda de medicação e acompanhamento psiquiátrico, dependendo das necessidades do indivíduo, prevenindo a acção nociva do craving – vontade irracional e intensa de usar associada aos consumos de cocaína e crack, casos de ansiedade grave e depressão relacionados ou não com as dependências.
Os Grupos de Ajuda Mutua (Alcoólicos Anónimos / Narcóticos Anónimos) desempenham um papel fulcral na manutenção da abstinência e da recuperação a longo prazo, prevenindo assim os deslizes e as recaídas frequentes nas dependências aditivas.
João Alexandre de Sousa Rodrigues: Técnico de Aconselhamento em Comportamentos Aditivos
Áreas de Intervenção
Todas as Áreas de Intervenção
Comportamentos Adictivos
Através da nossa experiência consideramos importante informar que alguns indivíduos adictos a substâncias (drogas licitas, incluindo o álcool, nicotina, e/ou ilícitas) também apresentam diagnósticos duplos (co-morbilidade) por ex. dependência de substâncias e jogo, relação de dependência e dependência de substâncias prescritas pelo médico (drogas lícitas).
Tal como as substancias, os comportamentos adictivos são factores bio.psico.sociais e ambiente, adoptados e desenvolvidos ao longo da Vida (progressivamente) de forma a suportar a pressão/tensão do dia-a-dia.
Podem passar despercebidos ao indivíduo, incluindo a família e colegas no trabalho, e reforçam a gratificação imediata, a impulsividade, auto-critica reduzida (ex. justificação e racionalização) e a Ilusão.
Dependência Química – Drogas
Dependência química de drogas (Substâncias licitas e/ou ilícitas) é caracterizada pelos seguintes sintomas:
Aumento da tolerância à substância.
Procura da sensação do alivio proporcionada pela substância (prazer imediato).
A dependência aumenta progressivamente.
Remorso e sentimento de culpa persistente.
Síndrome da Abstinência, vulgo Ressaca.
Geográficas, Relações Significativas.
Álcool
O Álcool, a nicotina e a cafeína são as substâncias mais consumidas em Portugal,sendo o Álcool a mais destrutiva. O Álcool é uma droga. Para algumas pessoas vulneráveis, o Álcool pode ser a droga que mais risco e consequências acarreta a médio e longo prazo – na saúde, na família, no trabalho, na sociedade. Na nossa opinião, o abuso e o alcoolismo são um problema grave, entre os jovens e adultos.
Co-Dependência
(Relacionamento de dependência, personalidade dependente)
A Co-dependência é um tipo de patologia emocional/afectos e de relacionamentos.
Em Portugal este conceito existe desde o final dos anos oitenta entre os grupos de ajuda mutua e os centros de tratamento que adoptaram os 12 Passos.
De inicio, a descrição deste quadro incluía apenas famílias de pacientes alcoólicos, mas com o tempo, abrange membros de família (ex. mãe, pai, irmã ou irmão, avó ou avô, etc.)
Problemas Alimentares
Anorexia, Bulimia e Compulsão Alimentar.
Alguns estudos revelam que as perturbações do comportamento alimentar apresentam uma tendência gradual para aumentar o surgimento de novos casos.
Muitos portugueses apresentam perturbações relacionadas com o comportamento alimentar.
A sociedade industrializada sujeita o indivíduo (crianças, adolescentes, adultos e seniores) a um conjunto elaborado, diversificado de estímulos e paradigmas
(publicidade e marketing, consumismo, indústria das dietas e alimentar, ginásios “Health Clubs”, televisão, cinema, moda) cujos critérios prejudicam a qualidade de vida.
Adição ao Jogo
Embora a actividade do Jogo seja associada ao lazer e convívio existem alguns indivíduos, pela sua predisposição neurobiologica.psico.social e ambiente apresentam um tipo de vulnerabilidade ex. alterações drásticas do humor, compulsão e perda do controlo. Aparentam racionalizar e equacionar a actividade do jogo com a sua própria felicidade e dos seus familiares.
Ao contrário da dependência das substâncias licitas e ou ilícitas o individuo dependente do jogador não apresenta sintomas de degradação físicos ou morais que torna difícil o diagnostico da Adicção ao Jogo na fase inicial.
Através do recurso a imagens obtidas por ressonância magnética, estudos recentes, sugerem que os mecanismos cerebrais associados ao jogo (Adicção) interferem e afectam o funcionamento normal do cérebro.
Luto
O Luto é uma reacção cognitiva, emocional e legitima do ser humano quando existe uma Perda – não-existência (pessoas, lugares e coisas). Reconhecemos a impotência (autoconhecimento) quando perdemos alguém ou algo importante. Ao longo da vida, através do apoio das pessoas significativas e da nossa própria experiencia, dependendo da intensidade do choque sobre a perda, aprendemos que nada é garantido e que a vida tem um fim. Estamos expostos à adversidade e vulneráveis.
Depressão
Depressão é uma doença psiquiátrica que se caracteriza por sintomas relacionados com o humor, deixando-a com um predomínio anormal de tristeza. Todas as pessoas, homens e mulheres, de qualquer faixa etária, podem ser atingidas, porém as mulheres são duas vezes mais afectadas que os homens. Em crianças e idosos a doença tem características particulares, sendo a sua ocorrência em ambos os grupos também frequente.