“Sou o Marco, tenho 32 anos, estou recaído e a fazer um processo de oito meses. Já estive cá há sete anos atrás devido ao meu consumo excessivo de cocaína e álcool, fiz o processo dos 12 passos mas a minha vida, há cerca de um ano, voltou a ficar no fundo. Tive uma recaída daquelas grandes, mesmo a pique, pior do que a outra que me fez entrar aqui da primeira vez e não me sentia bem comigo próprio. Para mais, trabalho durante a noite, sou barman, o que não ajuda muito. Com os consumos de álcool e cocaína que fazia diariamente, mal descansava. Era acordar, tomar banho e ir trabalhar, chegar a casa de manhã, dormir três horas. Era um ciclo vicioso, até que vi que a minha cabeça estava quase a rebentar e tive que pedir ajuda. Estou aqui há 20 dias”.
“Eu sou a Ana, tenho 25 anos, consumo heroína há seis anos e vim para a CRETA porque tinha a vida completamente desgovernada. Pode dizer-se que cheguei ao fundo do poço. Já nada fazia sentido, era acordar para consumir, não trabalhava, não queria nada, estava difícil seguir um rumo, não me interessava por estudos, trabalho, família, nada… Entrei em desespero. Já tinha recorrido a ajuda numa outra comunidade terapêutica onde estive quatro dias mas não deu resultado. Estou aqui há 12 semanas, o que já é uma vitória para mim. Antes, nunca me tinha aguentado, nunca tive vontade, nunca quis largar a droga e, há 12 semanas atrás, tomei a decisão que tinha que tomar, pois já nada fazia sentido para mim. Já quase nada tinha na vida e o pouco que tinha estava a perder. Então, vim para a CRETA. Nunca tinha feito este programa… se calhar, na outra comunidade até era o mesmo mas nem sequer me apercebi. Nunca tinha dado valor a mim própria nem aos outros como dou actualmente a estas pessoas que estão aqui ao meu lado, amigos, poderei dizer. E aqui encontramos isso. Além da confiança, de vermos as coisas com mais clareza… Neste momento, ainda não posso dizer que esteja muito confiante mas sei que tenho que trabalhar nisso. Honestamente, sei que não tenho feito muito por isso mas estou a começar a fazê-lo agora. Isto aqui ajuda-nos muito a conhecermo-nos a nós mesmos. Conheci uma Ana que não sabia que existia, vi as coisas boas que existem, que nem tudo se resume aos consumos e que existe uma vida lá fora”.
“⭐⭐⭐⭐⭐Sou o Pedro, tenho 30 anos, consumo álcool e heroína há 14 anos. Antes de entrar na CRETA, tinha uma relação de amor e ódio com a minha droga de escolha, a heroína, e cheguei a uma determinada altura em que entrei em desespero porque comecei a ver o meu bem-estar a retrair-se e tudo aquilo por que tinha lutado e alcançado a esvair-se, o que me fez uma confusão enorme e se transformou num tormento. Eu gostava da droga mas, ao mesmo tempo notava que, à parte esse amor, começava a perder tudo e a perder-me a mim próprio, no aspecto físico, na degradação… Encontro-me há 14 semanas em tratamento e, falando um pouco sobre o que é a CRETA para mim, gostaria de incluir o programa em si, ou seja, o relevo que ele me trouxe. Eu nunca gostei de tocar nos meus sentimentos, na minha parte emocional, porque, lá fora, sempre que surgia um problema relacionado com essa minha parte – como o caso de os meus pais serem divorciados, sempre lhes atribuí muitas culpas e não gostava de lidar com essa situação – recorria à heroína, como uma forma de relaxar, de fugir. É a primeira vez que me encontro em tratamento e este programa, apesar de me ter custado um pouco de início porque tive que me confrontar com a minha própria realidade e a começar a sentir as coisas que nunca quis sentir na vida, fez-me ver as coisas de uma maneira diferente. Fez-me perceber que tenho que sentir as coisas e de trabalhar os meus próprios comportamentos. É muito natural que uma pessoa como eu que consumia já há 14 anos, tivesse comportamentos não muito dignos, como por exemplo ter que manipular outros, por vezes ter que me tornar uma pessoa egoísta… adoptar comportamentos que nunca quis ter. Confesso que não é fácil uma pessoa chegar aqui e expor a sua vida e os seus problemas mas, com o tempo, a honestidade e a identificação que existe entre as pessoas do grupo ajuda muito. Saber que todos têm uma parte positiva, a nostalgia das drogas, mas também uma parte negativa, os danos que as drogas nos trouxeram é fundamental e, para isso, existem as palestras que nos ensinam tudo aquilo que tem a ver com as partes emotiva e racional da pessoa, existem as terapias de grupo em que nos inter ajudamos identificando-nos e assim tornando mais fácil descobrirmo-nos e aprendermos uma maneira mais saudável de lidar com as coisas. Há as partilhas, em que vem alguém com mais tempo de recuperação, é capaz de nos transmitir as ferramentas que utiliza no seu dia-a-dia, o que se torna dignificante.
Depois, há algo essencial neste programa que é a irmandade que, para mim, tem muito significado porque eu era uma pessoa que tinha muita tendência para me isolar. E hoje não tenho mais por que me isolar, posso recorrer a qualquer pessoa, pedir ajuda, existe honestidade. Como eu tenho vontades de uso, existe mais quem o tenha mas, em vez de ir consumir, nesta parte de identificação, alguém me vai também manifestar essa vontade. E o simples facto de falarmos e expormos o problema já nos alivia a ansiedade e o stress. Hoje sou uma pessoa que se sente contente, consegui ganhar alguma orientação na vida, foi como se tivesse aberto uma porta. Neste momento, encontro-me na parte final do tratamento que, aliás acabava às 12 semanas, já estou a trabalhar a reinserção, está a ser uma coisa muito boa porque tenho tido muita ajuda do grupo todo desta casa e, daqui para a frente vai ser muito útil a irmandade em si. Ir a reuniões, seguir os passos que trabalhamos diariamente… E se quero ter uma vida saudável em recuperação, será isso que terei que fazer. Também sinto a responsabilidade de ter que ajudar os mais novos, pelo simples facto de que quando entrei nesta casa ter sentido aquele conforto que me transmitiram a mim e que quero transmitir ao próximo. E ao fazê-lo, também aumento a minha auto-estima e a minha confiança. Sinto-me bem a fazê-lo”.
“Sou o Pedro, tenho 30 anos e há seis que consumo heroína e cocaína – álcool, já consumo há mais tempo. Vim para aqui porque precisava de ajuda. Consegui destruir tudo o que juntei, não só a mim mas também à minha família. Destruí a relação que tinha com a minha família e toda a gente que me rodeava. Tenho um filho a quem nada ligava. Era só consumos e pouco me preocupava mesmo com o meu filho, que tem cinco anos. Comecei a perceber que estava na altura de recompor a minha vida porque, sinceramente, isto, não é vida para ninguém, só nos leva à degradação e à miséria, nada disto faz sentido. Pedi ajuda a esta casa, a quem muito agradeço, pois têm-me ajudado há 11 semanas: todos estes meus amigos que estão aqui comigo em tratamento, toda esta casa, sem excepção. É a primeira vez que me encontro em tratamento e confesso que era algo que, anteriormente, não tinha significado para mim. No entanto, hoje vejo que foi a minha salvação. A minha família está por dentro de tudo, também está envolvida no tratamento, por acaso, amanhã vou ter uma reunião familiar e, tal como eu próprio constato que estou a melhorar certos comportamentos, como a humildade, como o voltar a ser eu mesmo, a minha família também se envolve porque vai vendo algumas mudanças. Aquilo que eu já tinha tentado sozinho em vão, estou agora a consegui-lo com a ajuda dos outros, tal como defende este programa. E é esta irmandade que permite que, sempre que preciso, recorra a estes amigos na procura de ajuda, tal como estarei sempre disposto a ajudar quem precise de mim. Isto foi algo que aprendi. Pensava que éramos capazes de resolver qualquer problema sozinho e, afinal, não somos. Neste momento, o meu sonho é voltar a ter uma vida e reconquistar o meu filho que tem precisado muito de mim e a minha família que, apesar de tudo, continua a apostar em mim e a ajudar-me imenso”.
“Sou o Tó Zé, tenho 34 anos, consumi drogas durante 24, qualquer tipo de drogas, tenho duas filhas de meio diferente e, derivado ao mundo em que andei, não me dou com nenhuma. Vim para a CRETA por minha iniciativa. Foi a minha força de vontade de sair daquele mundo do qual já estava farto. Desses 24 anos de uso, estive quase nove anos preso, tendo sido condenado a 12 anos e oito meses. Graças a este programa, fui capaz de reconhecer que, a maior parte das vezes, só fiz mal àqueles que me amavam, os que hoje ainda me amam acabaram por sofrer muito mais do que eu. Estou cá há sete semanas, onde aprendi a viver, aprendi a ser um homem, aprendi a ser sincero, aprendi a ser honesto, a ser amigo do meu amigo, tudo graças aos 12 passos, aos meus amigos, a todos os terapeutas e a toda a irmandade. Hoje agradeço a Deus porque, independentemente de estar cá há sete semanas, vejo que mudei bastante. Dei uma volta de 90 graus. Independentemente de sete semanas não serem nada, hoje estou com bastante força de vontade para reconstruir tudo aquilo que perdi em 24 anos de uso. Durante os anos em que estive preso sempre consumi, – este é o meu primeiro tratamento – entrei na prisão a ressacar e saí de lá pior ainda do que entrei. Injectava-me lá dentro, durante estes 24 anos, posso dizer que apenas fumei uma vez cavalo, snifei coca e, de resto, foi sempre injectado, quer dentro, quer fora da prisão. Infelizmente, não é do meu tempo a experiência da troca de seringas nas prisões. No meu tempo, uma seringa dava para cinco ou seis pessoas”.
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Áreas de Intervenção
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Comportamentos Adictivos
Através da nossa experiência consideramos importante informar que alguns indivíduos adictos a substâncias (drogas licitas, incluindo o álcool, nicotina, e/ou ilícitas) também apresentam diagnósticos duplos (co-morbilidade) por ex. dependência de substâncias e jogo, relação de dependência e dependência de substâncias prescritas pelo médico (drogas lícitas).
Tal como as substancias, os comportamentos adictivos são factores bio.psico.sociais e ambiente, adoptados e desenvolvidos ao longo da Vida (progressivamente) de forma a suportar a pressão/tensão do dia-a-dia.
Podem passar despercebidos ao indivíduo, incluindo a família e colegas no trabalho, e reforçam a gratificação imediata, a impulsividade, auto-critica reduzida (ex. justificação e racionalização) e a Ilusão.
Dependência Química – Drogas
Dependência química de drogas (Substâncias licitas e/ou ilícitas) é caracterizada pelos seguintes sintomas:
Aumento da tolerância à substância.
Procura da sensação do alivio proporcionada pela substância (prazer imediato).
A dependência aumenta progressivamente.
Remorso e sentimento de culpa persistente.
Síndrome da Abstinência, vulgo Ressaca.
Geográficas, Relações Significativas.
Álcool
O Álcool, a nicotina e a cafeína são as substâncias mais consumidas em Portugal,sendo o Álcool a mais destrutiva. O Álcool é uma droga. Para algumas pessoas vulneráveis, o Álcool pode ser a droga que mais risco e consequências acarreta a médio e longo prazo – na saúde, na família, no trabalho, na sociedade. Na nossa opinião, o abuso e o alcoolismo são um problema grave, entre os jovens e adultos.
Co-Dependência
(Relacionamento de dependência, personalidade dependente)
A Co-dependência é um tipo de patologia emocional/afectos e de relacionamentos.
Em Portugal este conceito existe desde o final dos anos oitenta entre os grupos de ajuda mutua e os centros de tratamento que adoptaram os 12 Passos.
De inicio, a descrição deste quadro incluía apenas famílias de pacientes alcoólicos, mas com o tempo, abrange membros de família (ex. mãe, pai, irmã ou irmão, avó ou avô, etc.)
Problemas Alimentares
Anorexia, Bulimia e Compulsão Alimentar.
Alguns estudos revelam que as perturbações do comportamento alimentar apresentam uma tendência gradual para aumentar o surgimento de novos casos.
Muitos portugueses apresentam perturbações relacionadas com o comportamento alimentar.
A sociedade industrializada sujeita o indivíduo (crianças, adolescentes, adultos e seniores) a um conjunto elaborado, diversificado de estímulos e paradigmas
(publicidade e marketing, consumismo, indústria das dietas e alimentar, ginásios “Health Clubs”, televisão, cinema, moda) cujos critérios prejudicam a qualidade de vida.
Adição ao Jogo
Embora a actividade do Jogo seja associada ao lazer e convívio existem alguns indivíduos, pela sua predisposição neurobiologica.psico.social e ambiente apresentam um tipo de vulnerabilidade ex. alterações drásticas do humor, compulsão e perda do controlo. Aparentam racionalizar e equacionar a actividade do jogo com a sua própria felicidade e dos seus familiares.
Ao contrário da dependência das substâncias licitas e ou ilícitas o individuo dependente do jogador não apresenta sintomas de degradação físicos ou morais que torna difícil o diagnostico da Adicção ao Jogo na fase inicial.
Através do recurso a imagens obtidas por ressonância magnética, estudos recentes, sugerem que os mecanismos cerebrais associados ao jogo (Adicção) interferem e afectam o funcionamento normal do cérebro.
Luto
O Luto é uma reacção cognitiva, emocional e legitima do ser humano quando existe uma Perda – não-existência (pessoas, lugares e coisas). Reconhecemos a impotência (autoconhecimento) quando perdemos alguém ou algo importante. Ao longo da vida, através do apoio das pessoas significativas e da nossa própria experiencia, dependendo da intensidade do choque sobre a perda, aprendemos que nada é garantido e que a vida tem um fim. Estamos expostos à adversidade e vulneráveis.
Depressão
Depressão é uma doença psiquiátrica que se caracteriza por sintomas relacionados com o humor, deixando-a com um predomínio anormal de tristeza. Todas as pessoas, homens e mulheres, de qualquer faixa etária, podem ser atingidas, porém as mulheres são duas vezes mais afectadas que os homens. Em crianças e idosos a doença tem características particulares, sendo a sua ocorrência em ambos os grupos também frequente.